"... e, de qualquer forma, às cegas, às tontas, tenho feito o que acredito, do jeito talvez torto que sei fazer". Caio F. Abreu

sábado, 6 de abril de 2013

Desabafo angustiado


Hoje faz um mês que vi meu pai pela última vez. E se eu soubesse que seria assim, tudo seria tão diferente. Teria feito coisas diferentes, dito coisas diferentes, o abraçado e o beijado de forma mais forte, como mesmo uma despedida. É tão difícil de acreditar, de aceitar e de seguir. Por que as coisas tem que ser assim? Sinto ele muito vivo. A casa tem o ar dele, o dia a dia tem o ar dele, mas cadê ele? Se foi tão de repente e junto levou meu chão! Não tem um dia que eu não lembre dele, que eu não penso que estou enganada e que isso não aconteceu. Meu pai, cara!! Meu pai morreu! Como? A ficha não cai! Amanhã faz um mês que ele faleceu e eu ainda estou avoada! TUDO me lembra ele! A cortina que balança conforme o vento me lembra ele, absolutamente TUDO! O último dia em que o vi marcou demais, lembro exatamente como se fosse hoje. Lembro dele falando comigo, das brincadeiras que ele fez, do medo que estava sentindo, das expressões faciais que fez (pois eu o estava observando o tempo todo), do jeito que ele estava e de como seus olhos se encheram de lágrima quando minha mãe perguntou se ele não estava com saudade de casa. A resposta dele foi o silêncio, mas os olhos cheios de lágrimas. Não tem resposta mais sincera. E ai ele se vai! Injusto isso. Ou justo, não sei. Fico me perguntando todos os dias o que será que acontece realmente com o pós morte. Será que os bons vão para o céu e os maus para o inferno? Será que vamos para um outro plano e depois voltamos? Ou será que morreu e acabou? Sinto uma necessidade tremenda de saber essas respostas, mas de forma concreta e infelizmente sei que nunca as terei. Ninguém nunca as terão! A morte é a coisa mais certa desse mundo e inclusive é também a coisa mais certa que irá doer em quem ficar. Dos males, o menor. Meu pai não sofreu. Ele sempre disse que não ficaria em uma cama vegetando ou sofrendo, sempre disse isso. E como sempre detestou despedidas, foi-se rapidamente. Agora aqui estou, tentando buscar forças não sei de onde, tentando achar solução pra algo que nem sei o que é, me sentindo a pessoa mais perdida do planeta e carregando o mundo nas costas! Bowie, Beatles, Stones, Bugre, All Star, Rock, Animais... essas palavras nunca mais terão o mesmo sentindo.
Saudade, tristeza, insegurança, medo, descontrole fragilidade, sem rumo, mas também amor, felicidade e alegria de ter tido um PAI! O melhor do mundo, o mais doido, o mais cri cri e o que mais me orgulhava (como eu achava foda ver meu pai usando a camiseta do David Bowie que eu e minha mãe compramos a ele). Sei que ele sempre me amou, assim como amou minha irmã e minha mãe - além de toda família.
Um dia ele me disse que eu tinha dado o melhor presente pra ele, o dvd Best Of Bowie. Aquilo me deixou bem feliz. 
Ele se encantava por coisas simples. Era muito sincero e direto.
Eu precisava escrever, só assim sei dizer o que nem eu sei o que!
Apenas um desabafo, pra tentar tirar esse nó do peito e da garganta.

V.M.

segunda-feira, 11 de março de 2013

A vida muda

E quando menos esperamos, a vida nos surpreende.
Como é difícil encarar a morte, principalmente de alguém que amamos muito e que convivemos diariamente.
Tudo muda de um dia para o outro. Bate um desespero tremendo só de pensar em como as coisas caminharão, como tudo mudará e que não verei meu pai novamente. Difícil.
Muitas pessoas nos acolhem e nos amparam nesses momentos, mas fica um vazio. Não tem como não ficar.
Única coisa que realmente gostaria era que ele voltasse, era voltar no tempo e ficar com ele de novo, voltar a infância para aproveitá-lo mais e prevenir tudo o que acarretou sua morte.
Infelizmente, a realidade é outra! Só cabe me conformar e seguir vivendo um dia de cada vez. Mas sei que se ele pudesse escolher, gostaria de estar junto de nós novamente.
O que fica é a sensação de que algo além do que foi feito podia ser realizado, uma certa culpa, uma vontade de voltar no tempo, angústia, medo, responsabilidade, amadurecimento, o olhar de seu último dia, suas palavras, suas expressões e muita saudade.
Vai passar mil anos e eu vou lembrar de todos os detalhes de como foi o dia em que se foi, nunca algo me marcou tão forte. Não consigo entender como em horas uma vida se acaba. Terrível isso. Dói demais. Você está com uma pessoa, conversa normal com ela, você se despede, vai embora e 6 horas depois recebe uma ligação informando que essa pessoa faleceu! Inacreditável.
Foi-se tão jovem, com tantos planos. Mas com sua missão cumprida, se não ainda estaria entre nós.
Apesar de algumas discussões, hoje ele sabe, mais do que nunca, que entendo seu jeito de ser. Tudo o que ele fazia e como fazia era para o bem de sua família, incluindo a mim.
Quero passar seus ensinamentos a meus filhos. Meus filhos sempre irão ouvir falar do avô que, infelizmente, nunca conhecerão. Não é qualquer um que tem um pai com um ótimo gosto musical, coleção de allstar e que foi enterrado com a camiseta dos Beatles!

Pai, você foi o melhor pai que alguém poderia ter. Podia ser chato, ranzinza, mas tudo porque não gostava de intrigas, de briguinhas e sempre foi muito sincero e direto. Seu coração de ouro te entregava, assim sua imagem de durão caia. Obrigada por tudo, pela minha vida, por ter estado ao meu lado em todos os momentos, graças a Deus foi um pai muito presente, por ter me proporcionado conforto e por ter lutado por sua família. Sempre tive muito orgulho de você. Desculpa por querer discutir, pelas brigas, enfim. Nunca fui de ficar te falando isso (algo que me arrependo muito), mas te amo muito! Cada dia que passa é um dia mais próximo de me encontrar novamente com você.